Domingo foi o meu longão de 30 Km. Foi a primeira vez que corri tal distância. Hoje é quarta-feira e eu queria ter escrito esse post logo no domingo, com a memória ainda fresca sobre o turbilhão de aventuras que foi esse treino, mas, pensando melhor, acho que esse tempinho foi bom para eu poder assimilar o que aconteceu.
Então tá. Encontrei a Marcela, companheira de expedição-Berlim, no QG às 6:30 conforme o combinado. Desde o começo eu já apresentava claros sinais de impaciência com o treino, fazendo piadinhas do tipo ‘pra que mesmo a gente se inscreveu nessa M*?’. Tudo bem, sarcasmo pode ser bem aceito antes das 7h da manhã de domingo. Saímos do Leblon e fomos ao Sheraton, depois seguimos para dar 2 voltas na Lagoa. A primeira volta foi completamente arrastada. Eu estava de saco cheio e cansada daquela brincadeira. Pensei em parar, mas não parei. Não por uma questão de orgulho, ou necessidade de superação, ou aquelas coisas bonitas que a gente lê em depoimento de revista. Simplesmente não parei, mas queria ter parado. Comi uns biscoitinhos (que uso no lugar gel), aumentei o volume do Ipod e renovei as energias. A segunda volta na Lagoa foi ótima e o pace diminuiu bastante.
Voltamos para a orla, agora já com a presença da Andrea, meu anjo ruivo, e por volta do quilometro 20km eu dei de cara com um MURO. Não um muro de verdade, mas aquele muro figurado, bobo, feio e chato que aparece para assustar os corredores de vez em quando. Anunciei: ‘VOU PARAR, NÃO AGUENTO MAIS’. Ouvi gritos de incentivo e alguns até ameaçadores ‘Dor é psicológica.’ ‘Vambora, tá acabando. Só mais uma adidas.’ ‘Você é caveira ou não é?’. Lembro que para essa pergunta respondi: ‘Não, sou viado e dou a bunda.’. Se ainda havia humor, ainda havia esperança.
Voltamos a subir a Niemeyer e eu senti muita vontade de vomitar. Estava sem condições de tomar um gel (tomar aquela meleca com vontade de vomitar é pedir para gofar na ciclovia) mas consegui comer mais uma leva de biscoitinhos. Melhorei bem. Ainda mais com a santa Andrea carregando o meu cinto. E a minha blusa. E o meu Ipod. Na verdade só não dei os tênis para ela levar para mim porque o asfalto estava muito quente. Rs
Na descida da Niemeyer (ah, como eu adoro descidas!) meu deu vontade de ir ao banheiro. (claro, o que seria do meu longão sem o já tradicional piriri?) Parei no Posto 12. Peguei fila. Respirei um pouco. Achei que depois desses 2 minutos de ‘descanso’ as coisas pudessem ficar mais fáceis. Como eu sou ingênua. Me arrastei por mais um quilômetro (agora com os músculos travados graças ao ‘descanso’) e anunciei novamente: PAREI COM ESSA PORRA. NÃO AGUENTO MAIS. Novamente recebi uma enxurrada de ameaças carinhosas.
Comecei a chorar compulsivamente. Estava exausta demais para ficar com vergonha de chorar em público. Abaixei o rosto para que a viseira me escondesse um pouco, mas os soluços eram sonoros e era mais do que óbvio que eu estava em prantos. Chorei mesmo e, novamente, não por orgulho ferido de não conseguir continuar ou coisa do gênero, chorei porque estava exausta. Queria parar, mas não podia. Parecia algum tipo de jogo sádico de filme hollywoodiano. Eu queria parar, eu precisava parar, mas simplesmente não podia.
Levei um banho de água gelada (literalmente) do meu anjo ruivo e tive uma crise de riso ( Freud explica). Tudo melhorou. Consegui me arrastar até o quilometro 29 e quando vi que só faltava mais 1km fiz a gracinha de diminuir o pace. Cheguei. Morta e traumatizada.
Depois de tanto drama eu sei que consigo fazer o longão de 32Km, mas a questão é: será que eu quero? Não estou com vontade de me submeter a isso de novo. E, convenhamos, sair para treinar sem ter vontade já é meio caminho para a derrota.
obs: Agradeço a TODOS os meu amigos pelo apoio e pela solidariedade. Vocês são incríveis.
Tags:30 Km, berlim, choro, corrida, dicas, dificuldade, exaustão, longão, longo, maratona, superação, treino